segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A idade chega para todos


Minha Belinha é uma poodle. E como toda poodle é mimada, atrevida, pentelha, bravinha e tem certeza absoluta de que é gente. Mas todas essas qualidades estão começando a ficar atenuadas graças a idade que avança e o peso que aumenta. Semana passada, quando cheguei em casa, ela veio correndo me receber como todos os dias, chorando, lambendo, fazendo festa. Daí, pra fazer um agrado, resolvi brincar um pouquinho com ela e relembrar seus velhos tempos. Foi quando percebi que de fato eram velhos tempos. Lá fui eu correr pelo gramado do quintal como uma criança feliz do comercial da Sadia brincando com seu lindo labrador. “Vem, Belinhaaaaa”. E a Belinha veio, com a linguinha pra fora, cortando caminho pela lateral de pedra da piscina (nojo de grama, já viu isso?). Ela parou na minha frente, eu apertei seu focinho e chacoalhei seu corpinho, do jeito que ela gosta. Corri de novo. Alguns minutos de hesitação. “Vem, amorzinho... Vem aqui!”. Com uma cara de “Ok, vamos brincar disso até que horas?” ela veio andando rápido e parou na minha frente com um leve desanimo. Corri de novo. Ela não veio. Ficou parada no lugar que a deixei me olhando com a cabecinha inclinada e as orelhas em pé. “Ju, assim não dá. Odeio grama, você sabe! E eu já cansei dessa brincadeira besta. Vem aqui me fazer um carinho e tá ótimo.” Mas eu também sou teimosa e não fui. Corri até ela e quando ameacei tocá-la, corri de novo. E de novo. E mais uma vez. Ela começou a mostrar os dentes, irritada. Comecei a dar risada e fui até ela apertar um pouquinho. Ela tentou disfarçar a irritação, mas pude perceber pela estupidez da resposta aos meus carinhos. “É Belinha, você tá velha mesmo. Não aguenta mais nada... Vai, vamos entrar”. Como se eu tivesse acabado de falar a palavra mágica “passear”, ela levantou as orelhinhas e saiu correndo na minha frente pra dentro de casa, com certeza agradecendo por eu ter desistido da ideia maluca de brincar com ela no quintal.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Formatura - Parte II: Preparativos

O quão difícil é para o Universo conspirar a meu favor? Ok, frase pessimista e mentirosa (acredito que só quem pode “conspirar” algo é Deus, e como Ele não faz esse tipo de coisa, posso chegar a conclusão que não há nada nem ninguém conspirando contra mim). Mas é exatamente desse jeito que me sinto às vezes, e todos devemos admitir que jogar a culpa no “Universo” ou no “Destino” é muito mais fácil. A Formatura está chegando e esse mês – como de praxe – parece interminável. Expectativas com o emprego, com o intercâmbio, com a casa nova, tudo gira em torno desse mês, tão decisivo pro restante do ano. E ainda tem essa Formatura pra me esquentar a cabeça. Depois da saga do vestido veio a saga da Escola de Samba. Sim, eu que nunca na vida gostei de Carnaval, nunca me identifiquei com a cultura brasileira de cantores de terno branco gritando cantando em cima de um carro aberto. Eu que sempre me senti envergonhada ao assistir a saga dos gringos famosos, que em sua primeira visita ao Brasil são levados para quadras barulhentas e calorentas, cheias de gente, sendo obrigados a ensaiar passinhos ridículos enquanto alguma pessoa seminua dança em sua frente. Não gosto de samba, não gosto de pagode, não gosto mesmo e isso é direito meu. E eu serei obrigada a aguentar tudo isso no dia da minha Formatura. Não houve votação justa, ninguém colocou no papel que com o dinheiro gasto com 1 só atração seria possível conseguir coisas muito melhores para o nosso baile: como o terno de graça para os formandos e padrinhos, horas a mais no salão, e tantas outras coisas. Minha empolgação e ansiedade caíram uns 30%. Tentei como pude amenizar essa realidade, mas não adiantou muito. Depois de quase esquecer disso tudo, fui ontem retirar os convites. Minha empolgação e ansiedade caíram mais alguns %. Acho que nem vale a pena comentar os detalhes. Só digo que saí da UNISO com os convites na mão, me xingando por ser tão azarada a ponto de sortear a pior mesa do salão. O Universo parece mesmo estar conspirando a meu desfavor. Mas será que é só esse mês? Será que em fevereiro isso muda? Porque o baile é dia 12, Universo. Ainda tem tempo de você ser meu amigo.

Casamenteira


Seu maior sonho era casar. Passou a adolescência e a juventude sendo prepara por sua mãe. Aprendeu a costurar, cozinhar, bordar, pintar e tricotar. Aos 15, começou a montar o enxoval e aos 18 sentia-se pronta para ser a esposa ideal. Mas os anos foram passando e ela não conseguia encontrar ninguém. Quando chegava a alguma festa, evento religioso ou até mesmo ao banco, todo mundo da pequena cidade em que morava já sabia que ela tentaria ali arrumar um marido. 

- Oi, aquele seu primo veio?
- Veio. Com a noiva.
- Ah...

Investia também nos homens de fora da cidade.

- Oi Rosa, tudo bem? Fiquei sabendo que aquele seu amigo da cidade vizinha terminou com a namorada. Que pena, hein? Você não o convidou pra quermesse?
- Convidei, mas ele achou melhor não vir. Não iria pegar bem ele aparecer em público tão cedo com o namorado... Eu te contei que ele virou gay?

Era uma decepção atrás da outra. E os anos continuavam passando. Agora que já não era tão moça, e a beleza que antes já não era muita começou a ficar mais apagada, atirava mesmo pra todos os lados. Homens casados, mais novos, mais velhos, viúvo com cinco filhos. O importante era conseguir entrar na igreja vestida de branco – sim, ela se guardava pura para o futuro marido – e ter ao menos um filhinho. Mas a sorte não estava ao seu lado. Viu até mesmo sua irmã largada do marido arrumar o segundo em 6 meses. Durante o dia procurava manter a postura e o sorriso (nenhum homem gosta de mulher emburrada!), mas a noite chorava de angústia.
Prestes a completar 40 anos, ela viu chegou à cidade um forasteiro. Ninguém sabia nada sobre ele, sua família, sua origem. Tinha um ar de mistério e ela ficou encantada. Não perdeu tempo e foi logo se apresentar ao moço. Ele não era muito de falar, mas foi gentil com ela e naquela tarde, ela voltou cheia de esperança para casa. Como nos seus sonhos de menina, eles se apaixonaram e ele a pediu em casamento no dia da sua festa de aniversário. O bafafá correu solto na cidade, todos comentavam que tamanho era seu desespero que aceitou casar-se com um homem desconhecido. Mas ela não se importava, estava feliz demais com os preparativos para o casamento, o vestido de noiva, a preparação para a lua de mel.
O dia do casamento foi um grande acontecimento para os moradores da pequena cidade. Todos estavam lá, inclusive o prefeito. Com lágrimas nos olhos ela entrou na igreja de braço dado com o pai já velhinho. A cerimônia foi emocionante, e até os mais maldosos a saudaram entusiasmados. Com a noiva no braço, o forasteiro saiu da igreja sob uma chuva de arroz. E essa foi a última vez que o casal foi vista na cidade.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Acordei assim





Queria que meu cabelo tivesse bom hoje.
E que minha pele estivesse menos oleosa.
E que meu guarda-roupa tivesse mais opções.
Queria que meu play list tivesse aquela música agora.
E queria receber um presente surpresa de alguém. Ou só a presença de surpresa de alguém.
Queria que o mundo fosse mais fácil, mais justo.
Que fosse mais bonito e educado.
Queria acordar num conto de fadas, e sair cantando por aí como no filme “A Encantada”.
Queria muito. Quero tudo. E queria hoje.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Eu não sei andar de bicicleta


... e lembrei disso ontem. Minha mãe tem medo de dirigir, muito medo, e o engraçado é que ela dirige bem, sério mesmo. Já andei com gente com 20 anos de carteira que dá mais tranco ao trocar de marca do que ela (que geralmente só o faz quando vai reduzir marcha, o que é perfeitamente normal). Mas mesmo sendo boa motorista, minha mãe tem medo de dirigir e eu percebi o porquê. Ela tem medo, na verdade, das outras pessoas, do carro delas, da falta de paciência, de educação, da barberagem... E sem querer, disse a ela algo que me fez refletir depois. Eu disse assim: “Mãe, foi por causa dos outros, do que eles iam falar, que eu nunca aprendi a andar de bicicleta.” E isso aconteceu porque quando era pequena só andava com rodinhas, claro, mas quando fui tirá-las já era grande (e não grande de idade, mas de altura). Nas idas ao Paraná, na cidadezinha onde moram muitos parentes por parte de pai, meus primos sempre insistiam em me ajudar a aprender. Solícitos, eles emprestavam suas bicicletas e me incentivavam, mas era só sair na rua, ou ficar no quintal mesmo, que as pessoas começavam a aparecer nas janelas, portas e muros. E sem nenhum pudor, riam a apontavam para mim, a menina grandona que ainda não sabia andar de bicicleta. Tentava umas duas vezes, tentando resistir aos olhares e risadas, mas desistia rápido. Não aguentava aquela plateia que me fazia sentir ridícula. Hoje penso que na verdade ridículos sempre foram eles. 

Quantas vezes, quantas coisas deixamos de fazer por causa dos outros? Por causa do que eles vão pensar, porque talvez eles te vão te apontar e rir de você. Quantas vezes nós fizemos isso com alguém? Sem saber que estávamos magoando, ferindo e até mesmo destruindo sonhos, rimos de sua aparência, de sua incapacidade de fazer algo, de alguma opinião. E assim, eu e muitos por aí, nos sentindo envergonhados, escondemos nossa essência, nossos sonhos, nossa deficiência e acabamos por deixar para trás a oportunidade de aprender e crescer, a oportunidade de sermos melhores, de sermos felizes.

Mas eu não vou deixar que minha mãe desista. Ela vai dirigir e eu, ainda vou aprender a andar de bicicleta.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Formatura Parte I: O Vestido.


A busca pelo vestido perfeito para a minha formatura foi tão difícil, decepcionante e agonizante como o imaginado. Exatamente por saber que assim seria, quis, desde o começo, mandar fazer um vestido sob medida. Único e exclusivo, O Vestido. Mas descobri que mandar fazer roupa de festa não é assim nenhuma maravilha. Visualizar o vestido do papel em você é incrivelmente difícil, isso sem falar em imaginar a cor como um todo, o caimento, o decote... Isso porque estou me formando em Publicidade e Propaganda e trabalho na criação (ironia feelings). Dada a tamanha dificuldade e um medo gigante de ter um treco ao fazer a primeira prova com a costureira e ver que não era aquilo o que eu queria, resolvi me render aos vestidos prontos da Rua São Caetano. Fui eu, minha mãe e minha amiga, também formanda e com as mesmas angústias que eu, com meu tio sabe-tudo-de-São-Paulo dirigindo. Fomos as primeiras e as últimas a sair, juro. Andamos em todas as lojinhas possíveis e ao sair de cada uma, sentia meu sonho de encontrar o vestido perfeito ficar mais longe. Experimentei um lindíssimo estampado, porém muito piriguete pra minha pessoa. Experimentei um elegantérrimo modelo Oscar azul marinho, mas muito sério para a ocasião. Até que entramos numa loja que, segundo a vendedora, possui mais de mil modelos. “Pode ter certeza, você vai encontrar o seu vestido aqui”. Foram muitas provas, MUITAS provas e todos os vestidos que provava vinha com um porém: não gostei da cor, não gostei do decote, não gostei do modelo, não quero, é brega, é apagado, é bolo, é o fim do mundo. Minha amiga logo, muito logo, encontrou um modelo parecidíssimo com o que ela pegou de um red carpet da vida. Não pensou duas vezes pra fechar negócio, claro. Enquanto isso, a pobre vendedora baixava mais vestidos pra mim do estoque, das lojas vizinhas, da carga que acabou de chegar. Não, não e não. Desespero. Minha mãe começou com a pressão psicológica de passar o dia andando em SP e voltar pra casa de mãos vazias. A vendedora ainda tinha esperanças de fechar mais uma venda. Até que uma mocinha com cara de mimada chegou e começou a experimentar alguns modelos. Na verdade, ela experimentou dois: um horrivelmente sem graça e outro que a fez se sentir ainda mais linda (zzZzZZZzz). Minha mãe e minha amiga se apressaram em elogiar o modelo e me incentivar a prová-lo. Bom, como já tinha provado uns 20 e estava esperando o vestido da minha amiga terminar os ajustes, resolvi aceitar. Resultado: um coro de vozes “Que lindo! Nossa, ficou perfeito”. Olho pra cara das 3 e vejo um misto de cansaço, piedade e ansiedade. “Vocês acham mesmo?”. Olhei de novo no espelho. Não era nada daquilo que havia imaginado. Nada! Cor clarinha (queria nude, mas nude não é cor clara, nude é nude) e tomara que caia (sonhava com meu vestido um-ombro-só). Mas ficou legal, pensei. E não tenho mais tempo, nem hoje e nem nas próximas semanas (faltam apenas 4 semanas pro baile!), então vai ter que ser esse. Suspiros de alívio. Resultado: acabei não encontrando o vestido perfeito dos meus sonhos, mas acho que vou conseguir ficar satisfeita com o look final no dia do baile.