quinta-feira, 25 de novembro de 2010

À Espera


Todos os dias ele acordava de manhã bem cedinho para conseguir fazer todo o seu ritual de beleza. Era assim que ele chamava intimamente. Levantava às 6h50, tomava seu banho com sabonete líquido hidratante e, duas vezes por semana, usava o sabonete líquido esfoliante. Ao sair do banho, passava seu desodorante sem cheiro e lavava o rosto com um sabonete especial para peles extremamente oleosas. Por mais que cuidasse, espinhas vermelhas em volta e amarelas na ponta, insistiam em sair. Já tinha 26 anos e a pele parecia de um adolescente de 16. Já fora em vários dermatologistas, mas nenhum de fato resolveu seu problema. Suspirou. Depois de limpar bem a pele, escovou os dentes, passou o protetor solar especial para seu tipo de pele e penteou o cabelo preto. Procurava manter o cabelo curto, mas ele crescia demais, invadindo testa e nuca. A sobrancelha acompanhava o crescimento do cabelo, e ele percebeu que já estava na hora de aparar. Foi para o quarto, vestiu sua roupa cheirosa e bem passada, calçou os sapatos sem chulé e passou um perfume importado, não muito, só o suficiente para ficar agradável. Saiu do quarto, passou no quarto de sua mãe que ainda dormia e a beijou no rosto. Ao passar pela cozinha, pegou 1 maçã e um iogurte natural. Procurava manter uma dieta equilibrada, mas a genética não colaborava, porque ele continuava sempre acima do peso. Ao fechar o portão, pensou se hoje alguém notaria a camisa novinha que exibia, ou quem sabe o perfume importado, ou os sapatos bem lustrados. Pelo caminho, foi imaginando sem grande pesar, só imaginando por curiosidade, quando, finalmente, alguém se interessaria por ele. Filho único, ele vivia com sua mãe que aos 35 anos engravidou de um caso que teve. O cara sumiu no mundo. Cresceu cercado de muito amor, educado para ser sempre gentil e atencioso com as mulheres. Sua mãe lhe ensinou que um homem precisa sim, ser vaidoso, saber cozinhar, cuidar de uma casa. Ela também lhe disse para acreditar nas pessoas, por mais que elas o decepcionassem. Ele nunca questionou os ensinamentos de sua mãe e por mais que não fizesse sucesso algum com as mulheres, seguia acreditando que a mulher especial iria aparecer e ele daria a ela todo o seu amor. Subiu no fretado, com a esperança que o acompanhava todos os dias, e pensou “Será que hoje a encontro?”.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Começando bem a semana


Durante três semanas cobri as férias do meu colega de trabalho e fique sem ir à ginástica de manhã. Na verdade, ele voltou de férias semana passada, mas decidi voltar pra malhação só hoje, segunda-feira, porque tem aquela coisa de reiniciar o ciclo do começo e tal, o que, confesso, era só uma desculpa para a preguiça.  Acordei então às 7h55 dessa segunda-feira nublada e abafada decidida a ir, mesmo com uma cólica bem chatinha. Então coloquei meu uniforme velhinho da ACM, tomei café da manhã e fui com a minha mãe. Chegamos em cima da hora como sempre (faço ginástica localizada em grupo então tem hora marcada pra começar) e logo que entramos no salão, surpresa! A querida e normal professora de sempre não estava, hoje seria aula com a alegre-simpática-animada-louca substituta. “Não!”, pensei imediatamente, minha mãe disse logo em seguida: “Ih, olha quem é hoje...”, e olhou para mim com uma cara de decepção, desespero e riso. Junto com a gente entrou uma colega, que também pensou a mesma coisa: “É hoje hein!”. É, era hoje, eu escolhi justo hoje para voltar. Toda enferrujada, com sono, com cólica e com a professora mais hiperativa que existe na face das academias. 

Quando entramos já havia terminado o devocional (oração obrigatória feita antes de todas as atividades da ACM) e a professora já estava começando o aquecimento. “Vamos lá turminhaaaaaaaaaaaa, UHUUUU!”. Minha mãe já estava rindo e eu irritada. Durante uma hora e trinta minutos, essa professora gritou, sorriu, mandou beijos, contou piadas, virou cambalhotas, estrelas e deu um twist duplo carpado. Quer dizer, só faltou né, porque na minha vida, eu nunca vi uma pessoa com tanta energia. Tá, enquanto você está lá morrendo fazendo os exercícios, algumas palavras de incentivo caem bem, mas silêncio também é bom, obrigada. Em uma turma de 20 mulheres, 18 tinham mais de 40 anos, a 19 era uma menina gordinha nova na ginástica e a 20, eu. Então quer dizer, ninguém conseguiu acompanhar aquela animação. As mulheres do meu lado repetiam ironicamente a pergunta “Vocês estão comigoooo?” feita de cinco em cinco minutos e aos “uhuuuuuu’s” feitos a cada cinco segundos. Até a contagem para começar a próximo exercício vinha acompanhada com pulinhos animados e ensaios de uma dancinha “Estão prontaaaass? E 1, 2, 3 e 4”. Nessa hora minha mãe não aguentou e começou a rir do meu olhar de “Precisa mesmo disso?”. 

Finalmente, depois de 5 horas e quarenta e cinco minutos, a aula acabou com um lindo relaxamento onde aprendemos a expulsar as energias negativas. Agora, pensa numa pessoa animada para voltar para a próxima aula? A não ser que alguém me garanta que aquele poço de energia e bom humor não seja a professora, eu topo.

P.S.: Ela é chata, mas não tenho nada contra sua pessoa. No final da aula, sorri. Aliviada por ter sobrevivido e com um pouco mais de ânimo para começar a semana. Acho que ela cumpriu sua missão.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Arrogância


De tantos defeitos que o ser humano pode ter, a arrogância, na minha opinião, é um dos piores. Explico por que. Quando uma pessoa é arrogante ela é em consequência muitas outras coisas. Vou listá-las:
  • Folgado
O arrogante é folgado porque tem a certeza absoluta de que é melhor e mais importante que todos os outros seres da face da Terra. Sendo assim, ele fura filas em supermercados, bancos, trânsito e afins; come o lanche do colega de trabalho deixado na geladeira; não arruma a própria cama em que dorme; tira sarro de tudo e de todos e não aceita nenhuma brincadeira de ninguém. Ele usa a roupa dos outros sem pedir, acaba com o sorvete, cerveja, seja lá o que for, e não pergunta se alguém mais vai querer. E daí pra pior.

  •  Indelicado/Indiscreto
Por se achar acima da verdade, costuma dizer o que pensa sem medir as consequências. Não se importa em magoar, ferir ou encabular alguém. Afinal, quem se importa com os outros?

  • Egoísta/Egocêntrico
O dele é melhor, o que ele faz é mais bem feito. Os outros nunca o entendem, pois sua inteligência é acima da média. Gosta de ter a atenção voltada pra si, mesmo que de alguma maneira isso signifique passar por cima de alguém.

  • Sem paciência
Geralmente ele acredita ser muito inteligente e de pensamento ágil. Se você não acompanha seu raciocínio imediatamente, ou se não compreende a mensagem da mesma maneira que ele, sinto muito, você será de alguma maneira humilhado. Ele também não tem paciência de esperar por nada nem ninguém. 

É claro que eu, por exemplo, em muitos momentos já fui – e sou – folgada, indelicada/indiscreta e egoísta/egocêntrica e sem paciência. Mas o que diferencia todos do arrogante é que ele nunca na vida admitiria ter nenhum desses defeitos. Aliás, defeito nenhum.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Eu gosto de Taylor Swift

Ela escreve as próprias músicas. As letras são doces e as melodias, suaves. A voz de menininha é tão agradável que me ajuda em dias tensos. Ela é magricela, usa os cabelos cacheados, toca violão em seus shows e, como li esses dias no Twitter de alguém, tem cara de gripe. Não é legal? Isso sem contar os namoradinhos que ela já teve: John Mayer, Joe Jonas, Taylor Lautner e agora especulam um novo amor, Jake Gyllenhaal. Tá bem né?
Gosto de muitas outras cantoras, como Joss Stone, Norah Jones, Duffy e Colbie Caillat, todas, porém pendem para um lado mais alternativo, fogem do pop grudentinho que não faz mesmo meu estilo. Mas a Taylor está aí, fazendo música com refrãos grudentos e tocando sem parar nas rádios. E eu gosto dela, iria em seu show e estou pensando em até comprar um CD. Ela me surpreendeu e conquistou. Taylor, estou virando sua fã. 


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um grande dia


O dia nem bem amanheceu e seu despertador tocou. Sem tempo para enrolar na cama, levantou tão depressa que bambeou as pernas e caiu de volta no colchão duro que gemeu. Suspirou e levantou-se novamente. Entrou no banheiro sem porta, de chão frio, fez xixi e puxou a descarga. Mas a água não desceu. “De novo sem água?”. Novidade seria se tivesse. Sem água, passou a gasta escova de dentes na boca, a áspera toalha no rosto e o pente desdentado no cabelo. Voltou para o quarto, tirou a camisetona velha e vestiu jeans, seu tênis mais quente e uma blusa de lã marrom. Pegou a bolsa pendurada na cadeira da cozinha ao mesmo tempo em que pegou o pacote de bolacha água e sal colocado sobre a mesa na noite anterior. Ao sair pensou em como seria bom se quando chegasse, sua quitinete estivesse milagrosamente limpa e arrumada. Riu da bobeira.
Desceu as escadas escuras e sentiu o baque do vento gelado logo que abriu a porta. O céu estava cinza e uma névoa densa a saudava para mais um dia de trabalho. Juntou os braços sobre o corpo e tentou correr até o ponto de ônibus, e quanto mais corria mais o vento cortava seu rosto. Nem 2 minutos de corrida e ela já estava ofegante sentindo dores abdominais. Caminhou o restante do caminho e pensou que se conseguisse perder todos aqueles quilos talvez conseguisse correr mais. Mas por hora a corrida fora suficiente para esquentá-la um pouco, o regime poderia esperar. Chegou no ponto e o ônibus encostou logo em seguida. Agradeceu por essa sorte. 

Mesmo àquela hora o ônibus estava abarrotado. Uma mistura forte de odores a fez se sentir feliz por não usar perfume nenhum, pelo menos não contribuía para aquele festival de cheiros desagradáveis. Em dias de frio como esse, em São Paulo, ninguém abria as janelas e elas ficavam embaçadas. Encaixou-se entre um jovem de perfume doce e uma senhora gorda, mais gorda que ela, de saia. Ficaria ali pelo menos nos próximos 30 minutos. E ficou. Ao desembarcar avistou o segundo ônibus que deveria pegar e sorriu de alívio.
Ao entrar no ônibus, escolheu como de costume seu acento. Todo dia mudava, porque aquela linha era vazia. Sentou e abriu seu pacote de bolacha. Durante os 40 minutos da viagem comeu todas enquanto olhava distraída pela janela. Não se cansava de ver como era lindo esse bairro e pensava sempre em como era sortuda por ter arrumado um emprego ali. Seus olhos brilhavam.

Desceu do ônibus, andou 5 minutos, pegou a chave na bolsa e entrou. A casa estava quieta e silenciosa como de costume. Ao entrar na área de serviço pegou seu uniforme e colocou-o. Enquanto colocava a touca na cabeça, lembrou-se que era fim de mês, e todo fim de mês sua patroa a presenteava com 1 bombom, daqueles deliciosos vendidos em lojas onde até a sacola tinha cheiro de chocolate. Mas hoje não era o fim de um mês qualquer, era o dia 30 do seu aniversário. Imaginou como seria ganhar 2 bombons por esta data. Guardaria o segundo para o dia seguinte. Sua boca encheu-se d’água.

Ao final do dia, junto a pia da cozinha, 3 bombons. Três bombons! Ela mal conseguia acreditar na generosidade da patroa. Arrumou suas coisas, guardou com cuidado as 3 preciosidades e foi embora. No caminho não conseguia conter a ansiedade de chegar em casa, requentar o macarrão da noite anterior, tomar um banho (por favor água, tenha voltado!), deitar em sua cama e comer 1, quem sabe até 2, bombons. Enquanto delirava com esses momentos, a viagem passou rápida e, ao descer do último ônibus, sorriu e deu boa noite para as pessoas que ali ficaram.

Ao entrar no prédio, passou pelo zelador velhinho cheirando a tabaco. Sentia simpatia por ele mesmo assim. Ele lhe disse que naquela manhã a sua prima bonitona esteve ali e pediu a chave extra da sua quitinete e devolveu depois de algumas horas. Ela não se importou muito, porque sua prima costumava ir até lá, quando dava tempo, antes de ir trabalhar no mercado e depois de fazer a faxina num consultório médico. Deu boa noite e subiu. Gostava dele, mas não tanto.

Subiu ansiosa as escadas e quando abriu a porta, ficou paralisada. Sua quitinete era outra. Sobre a cama uma colcha de retalhos que imediatamente reconheceu ser obra de sua tia. Conseguiu ver o banheiro todo organizado, a pia sem nenhuma louça em cima, um vaso de violetas sobre a mesa. Entrou, fechou a porta atrás de si e sentiu o leve perfume de desinfetante talco que tomou todo o lugar. Viu na mesinha de cabeceira uma folha e logo que a pegou, reconheceu a letra da sua prima:

“FELIZ ANIVERSÁRIO!

A minha mãe fez essa colcha especialmente pra você porque ela sabe o quanto você gosta. Limpei tudo e trouxe um vasinho de violetas do consultório (com certeza o Doutor nem vai perceber, ele tem tantos lá...). Espero que você tenha gostado da surpresa, é tudo o que podemos te dar.
Você é muito especial pra nós, prima!

Um beijo,
Tia Dita e prima Val.”

Terminou de ler entre lágrimas. Apertou o bilhete contra o peito, segurou os bombons com ternura e pensou em como estava feliz e em como era sortuda. Afinal, poderia ela ter um aniversário melhor do que este?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Então minta, meu filho!

A moça que limpa a minha casa tem um filho de 3 anos. Em uma ida ao supermercado com o marido, levou o pequeno e passou por uma situação tão engraçada como constrangedora. Lá estava ela passando as coisas no caixa, com ele no colo e o marido colocando as coisas na esteira. Ela percebeu que seu filhinho inocente estava encarando a moça do caixa sem parar. A moça por sua vez era, digamos, exótica. Depois de alguns minutos, imagino eu refletindo, ele diz (para a caixa): “Nossa, mas você é feia hein!”. A mãe fica sem reação. O pai tenta amenizar: “A mamãe é feia filho?” “A mamãe não pai, a moça.” “Não fala assim filho...” “Mas ela é feia mesmo mãe!” O pai teve um ataque de riso tão incontrolável que teve que pegar a criança e ir para fora esperar a coitada da esposa, que ficou sozinha terminando de passar a compra, com a cara no chão.

Também escutei algo parecido presenciado em um ônibus.

O pai entra no ônibus com o filho, de uns 5/6 anos. Eles se sentam um ao lado do outro e logo que o ônibus começa a andar, o filho olha intrigado para o pai e pergunta: 

- Pai, tá um fedô de homi véio aqui! É você?
- Xiiuu muleque!
- É você sim pai. Afff, que fedô de homi! Cê não tomou banho não? 

Todo mundo do ônibus ouviu, pois este estava quase vazio e bastante silencioso. Acho que depois dessa o pai resolveu tomar banho antes de sair de casa. 


Dessa maneira, podemos concluir que mentir (ou omitir), às vezes, é sinal de educação. E necessidade!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Cante para mim


Amor, 

Tenho um pedido a fazer para você: cante para mim no nosso casamento. Pode ser com a sua voz ou uma voz emprestada. Mas, por favor, dedique uma música para mim. Como você deve imaginar, vou chorar. Não se preocupe porque estarei com maquiagem à prova d’ água e vou me controlar para não fazer caretas e sair feia nas fotos e filmagem. A música? Alguma do Elvis, The way you look tonight, My Girl, She, Pretty Woman, ou até Roberto Carlos. O nosso momento será sublime, especialmente se nós também dançarmos. Podemos pular a valsa e dançar ao som da sua música para mim. Já tenho essa lembrança guardada na memória, então vai ter que ser assim. Você pode pensar que não terá graça já que estou encomendando a surpresa, mas fique tranquilo porque sim, será uma surpresa. Meu coração vai disparar e minhas mãos vão tremer. Como disse, vou chorar e você vai sorrir para mim confidenciando ali seu amor. Vai ser lindo, os convidados mais sensíveis também chorarão e se lembrarão do quanto amam seus esposos, esposas, namorados, namoradas. Ou o quanto já amaram na vida. Perceba que esse momento não será somente nosso, mas de todos. 

Na correria dos dias antecedentes ao casamento, vou esquecer este pedido. E quando você pegar o microfone, seja para anunciar a música com uma breve frase de amor, ou para cantar mesmo, vou lembrar que você lembrou. E vou te amar ainda mais por isso. Porque não é só sobre uma música. É sobre o seu cuidado em querer me fazer feliz em cada detalhe.