quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Novos ares


Minha vida agora é passar pelo menos 30 minutos por dia indo e voltando para a minha casa. Minha vida agora é passar por uma rua de terra, esburacada/lamacenta. Minha vida agora é comer pão amanhecido. Minha vida agora é conviver com todos os tipos de insetos existentes na face da Terra.
Agora vejo a lua limpa. Agora sinto cheiro de chuva e não de poeira. Agora vejo seriemas passeando no meu gramado e papagaios sentados no muro. Agora acordo com o som de muitos pássaros reunidos saudando a manhã. Agora levanto, abro a janela e vejo uma paisagem de filme.
Em dezembro de 2010 eu mudei de casa. E eu estou feliz.

FELIZ NATAL!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

E quando a inspiração não vem...


... Porque eu me sinto perdida, sem nem saber se gosto de chocolate preto ou meio amargo.  Porque me sinto sem rumo, sem chão, apesar de a minha vida ser tão vazia de reviravoltas. Às vezes é como se tudo fosse um grande sonho, do qual de algumas partes não lembro e de outras me recordo com detalhes doloridos, porém em praticamente todas sinto uma pequena frustração e penso se de alguma maneira poderia ter sido melhor. Penso em como seria absurdamente maravilhoso se eu pudesse ver como teria sido a minha vida se eu não tivesse escolhido estudar naquela escola, ou se eu tivesse decidido ficar em casa quando saí naquela noite. Tenho plena consciência de que são as pequenas atitudes, as pequeninas coisas que decidem o futuro. Mas só tenho essa plena consciência depois que o futuro já chegou e daí então me lembro daquela pequenina decisão. Assisti Vicky, Cristina, Barcelona do Woody Allen no cinema, mas não me lembrava de uma frase dita pelo personagem de Javier Bardem à personagem de Penélope Cruz “Chronic dissatisfaction, that’s what you have”. Respondi para o computador sem nem perceber “Exactly!”. O que escrevo não está bom para ser publicado, o que eu visto não é o que eu gostaria. A minha relação de afeto com as poucas pessoas ao me redor que posso realmente confiar que me amam, não é como deveria ser. Tinha 18 anos e sonhava com o dia que teria 20 e seria linda, independente, madura e satisfeita. Tenho 22 anos e sonho em voltar aos 18 e lutar para ser linda, independente, madura e satisfeita e não apenas ficar sonhando com tudo isso. Chronic dissatisfaction. O que fazer com ela quando até mesmo na minha inspiração ela interfere?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Primeiro de Dezembro


Eles estavam juntos há muito tempo. Muito tempo. Seus pais eram melhores amigos e por isso, cresceram juntos. Durante a primeira infância, brigavam muito, mas já aos 10 anos se consideravam namoradinhos. E assim foram, namoradinhos, até os 15 anos quando decidiram formalizar e comprar alianças de compromisso. Sempre estudaram na mesma escola, na mesma sala. O curso de inglês era junto, e as aulas de dança dela eram na mesma academia que ele fazia judô. Tinham poucos amigos, pois preferiam passar o tempo só os dois, indo ao cinema – sempre revezando entre os romances e épicos, os preferidos dela, e as comédias e filmes de ação, os preferidos dele –, tomando sorvete, andando de bicicleta no parque e ouvindo as músicas favoritas no quarto. Após terminado o Ensino Médio, se dedicaram no cursinho para passar na mesma faculdade pública, ela em jornalismo e ele em veterinária. Conseguiram. Seus pais, que sempre apoiaram o relacionamento, ajudaram a escolher um apartamento pertinho do campus. Juntos, eles também decoraram o lugar com muitas fotos e objetos significativos para a história dos dois. No dia da mudança, os seis posaram para uma foto na sala, onde também ficaram imaginando o dia em que a família aumentaria. Eles queriam ter filhos, morar numa casa com piscina e ter um pastor alemão, um papagaio e um furão. Ele cozinha maravilhosamente bem e ela, amava a comida dele. Em todos os lugares que iam, eram chamados como o casal modelo. O casal perfeito, nascidos um para o outro, almas gêmeas. Eles eram felizes e acreditavam mesmo nisso, acreditavam que eram perfeitos um para o outro. Até que, depois de 5 anos morando juntos no campus da faculdade, ela disse a ele que precisava conversar. Ela havia se apaixonado por outro. Sem palavras, ele apenas escutou. Ela disse que o conheceu há 1 mês, na palestra que um jornal da Capital deu para a sala dela. Ele era um consagrado jornalista e ela simplesmente soube, quando o olhou pela primeira vez, que era com ele que ela queria passar o resto da sua vida. Contou como passaram a se encontrar todos os dias e que foi algo simplesmente inevitável. Ainda em choque, ele a viu levantar e fazer suas malas. Antes de sair, ela parou em sua frente, olhou em seus olhos e lhe deu um beijo na bochecha. “Vamos nos casar. Me perdoe, eu sinto muito por te deixar assim. Mas é incrível como combinamos em tudo e como temos os mesmos sonhos, compartilhamos os mesmos gostos. Em 1 hora de conversa já sabíamos tudo um sobre o outro e... Bem, estou indo morar com ele na Capital, você pode ficar com este apartamento e os móveis... Espero que um dia possamos ser amigos.” Ela esperou alguns instantes, mas ele não teve nenhuma reação. Então ela se virou, pegou as malas, abriu a porta e pouco antes de sair, o ouviu falar: “Hoje, dia primeiro de dezembro, dia que completamos 5 anos morando aqui, eu comprei um anel de noivado pra você, um idêntico ao que há 8 anos você viu e se apaixonou na vitrine do shopping que íamos todos os dias. O gravei na memória durante todos esses anos e mandei um joalheiro fazer, com todos os mesmos detalhes. Acho que você não percebeu, mas comprei os ingredientes para fazer o seu prato favorito, aquele risoto de camarão que a sua avó costumava fazer na sua infância. Durante o jantar ia te pedir em casamento, recitando o poema de Vinícius de Moraes que você as vezes resmunga dormindo. Depois, ia te servir a torta de creme com nozes que você comeu na nossa viagem pra Buenos Aires, há 2 anos. Você disse que aquela era a melhor torta que você comeu na vida. Pensei, por fim, dançar com você ao som da música que dançamos no seu baile de 15 anos. Pensei em todos os detalhes que pudesse te fazer feliz. Mas agora, depois de ouvir tudo o que você acabou de me dizer e te vendo parada aí, de malas na mão, eu vejo que na verdade, eu não sei quem é você. Acho que nunca te conheci...” Ele parou de falar quando as lágrimas finalmente começaram a cair. De cabeça baixa e sem olhar para trás, ela saiu e fechou a porta atrás de si.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dias de Chuva

Não sei se alguém já fez uma pesquisa sobre isso, mas deveria fazer. Por que em dias chuvosos as pessoas tendem a ficar preguiçosas e sonolentas? A começar por mim, que fico ainda mais preguiçosa e sonolenta do que o normal, que já é muito. Dias de chuva também trazem outra sensação, que em mim fica na verdade apenas mais forte, a melancolia. Dias cinzas e molhados, para mim, combinam perfeitamente com músicas delicadas, tristes, nostálgicas, melancólicas. Como Damien Rice, Norah Jones, James Morrison e, como descobri há pouco, algumas da Sara Bareilles. Na minha cabeça essas músicas têm som de chuva, e eu sempre me imagino as escutando sentada em um confortável poltrona de frente para uma janela, onde de pijama e com a uma grande caneca de chocolate quente, reflito sobre a vida. Ou apenas paro para senti-la. E tenho que dizer que deste cenário a vida parece mais profunda e grandiosa. Os sentimentos tendem a se mostrar mais fortes, as lembranças mais vivas e as lágrimas e os sorrisos sinceros, mais fáceis de aparecer. Enquanto os dias de sol costumam fazer as pessoas pensarem que seus problemas são menores, que a vida é mais bela e leve, e que aquele sol poderá lhes trazer alegria pelo menos durante algumas horas, os dias de chuva servem para nos tirar da superficialidade. Dias de sol são ilusórios e dias de chuva, existenciais. E ninguém pode viver apenas de ilusão ou de realidade.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Não somos fracassados

Já vi alguns livros de autoajuda ensinando a lidar com o fracasso, mas acho estranho alguém procurar resposta ali. Quero dizer, eu lido com isso quase que diariamente e, a minha maneira, supero um a um, leve o tempo que for. Segundo o meu amigo Michaelis, fracasso é “Insucesso, mau êxito” e eu tenho muitos desses no meu currículo. Muitas vezes fracassamos por pura incompetência da nossa parte, outras tantas o nosso fracasso é por culpa de outros, só não sei qual dói mais. Ontem presenciei uma situação injusta e aquilo me doeu, porque alguém se sentiu fracassado quando não deveria. Mas mesmo que a culpa não seja sua, que você tenha dado o seu melhor e tenha plena consciência disso, ouvir que não foi suficiente significa para você, naquele instante, que você fracassou. Já perdi algumas amizades durante a minha vida e me lembro de sentir uma sensação muito amarga, de puro insucesso. O que eu poderia ter feito para evitar? Já me dediquei a fazer algo por alguém (muitos alguéns, aliás) e a pessoa simplesmente não notou, ou não deu a devida importância. Eu deveria ter tentado fazer melhor? Já recebi julgamentos injustos de professores, pais, amigos, namorado, desconhecidos. E aí, eu mereci? Algumas vezes sim, mas muitas outras não. E como lidar com essa sensação esmagadora de mau êxito, de fracasso, principalmente quando não fomos nós os culpados? Não acredito que seja com um livro de autoajuda, mas penso que cada um vai encontrar dentro de si a resposta e vai superar sozinho cada pequeno ou grande fracasso que surgir pelo caminho. Afinal, todos nós que não conseguimos glória em tudo o que fazemos, não somos fracassados. Somos pessoas e estamos sempre sujeitos a isso.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Porque eu sou equilibrada


To de bom humor, to de mal humor. To de bom humor, to de mal humor. To de bom humor, to de mal humor. To de bom humor, to de mal humor. To de bom humor, to de mal humor. To de bom humor, to de mal humor.
To feliz, to triste. To feliz, to triste. To feliz, to triste. To feliz, to triste. To feliz, to triste. To feliz, to triste.
Otimista, depressiva. Otimista, depressiva. Otimista, depressiva. Otimista, depressiva. Otimista, depressiva. Otimista, depressiva.

E acabou meu dia.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tigrão


Eu tenho 1 tio que se chama Tigrão. Ele mede pouco mais que 1.50m, calça 35 e deve pesar no máximo 60 quilos. Mas ele é o Tigrão. Ele conta que quando era jovem tinha uma lanchonete na sua cidade que se chamava “Lanchonete do Tigrão”, foi daí que surgiu o apelido. Mas essa explicação só é necessária quando a pessoa ainda não teve a oportunidade de passar mais do que 5 minutos ao lado dele. Ele fala, gesticula, canta, grita, assobia, dança, ri. Tudo em um espaço mínimo de tempo. Ele é muito engraçado, e não é porque ele costuma contar piadas ou algo do tipo, ele simplesmente é engraçado fazendo qualquer coisa. O pessoal lá de casa já se perguntou como é possível uma pessoa tão pequena fazer tanto barulho e bagunça. Já fazem alguns anos que não vou à casa dele (ele mora no interior do Paraná), mas com certeza não deve ter mudado. Quando você dorme na casa do Tigrão, você acorda quando ele acorda, a menos que você tenha a sorte de ter o sono pesado. Ele levanta, liga o rádio e canta junto, faz café batendo nas panelas, grita “amor” (pra mulher dele) a cada 5 minutos. As festas na casa dele terminam de madrugada. Eu é que não gostaria de ser sua vizinha. 
Meu tio tem esse dom, de animar qualquer ambiente. Uma festa com o Tigrão é diversão na certa! Mas não são só em festas que ele costuma causar. Uma vez ele foi assistir a uma apresentação minha de Dança do Ventre e, durante o intervalo, subiu no palco para tirar fotos, fazendo poses. Outra vez na praia de Santa Catarina, meu pai (irmão dele) e um amigo nosso deram R$50 para ele desfilar pelos barzinhos da orla vestido com uma canga de oncinha. É claro que ele aceitou. A mulher dele que tinha ido almoçar nesse momento, foi pega de surpresa ao ver o seu marido entrar rebolando no restaurante em que ela estava. Acostumada com o marido, ela simplesmente ficou sentada assistindo ao seu show, sem é claro denunciar que conhecia aquele ser.

Meu tio também é conhecido por seus “rolos”. Só nessa última vez que ele veio aqui em casa, ele conseguiu a proeza de convencer um cara a vender o retrovisor do próprio carro para ele. Isso porque meu tio queria um retrovisor igual aquele para completar a reforma do seu fusca velho. Na mesma conveniência, ele também convenceu a atendente a lhe fazer 1 pão na chapa com queijo sem cobrar o queijo. Ele convence qualquer um a fazer qualquer coisa, não duvide disso.

Há alguns anos ele voltou a estudar, para terminar o ensino médio. Ele levava garrafa de café e bolacha para a professora e os colegas. Quando vai pescar, leva um rádio no barco. São tantas histórias sobre namoros na juventude, aventuras de moto, sobre o dia a dia, que é difícil saber o que de fato aconteceu para o que é mera fantasia. Ele é uma grande figura e eu acho ótimo ter um tio assim.